Mostra
usa arte contemporânea para reviver as mães negras do Brasil escravocrata
- 23/07/2016 21h11
- Rio de Janeiro
Paulo
Virgílio - Repórter da Agência Brasil
A exposição Mãe Preta – memória da escravidão,
maternidade e feminismo traz intervenções das artistas Isabel Löfgren e
Patricia GouvêaFernando Frazão/Agência Brasil
Referências na arte produzida no
Brasil do século 19 ao início do século 20, as conhecidas imagens das amas de
leite negras ressurgem em uma exposição inaugurada na tarde deste sábado (23)
na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na mesma zona portuária da cidade
que guarda, em locais e sítios arqueológicos, a memória da escravidão no
Brasil.
A mostra Mãe Preta é
resultado de um ano e meio de pesquisas feitas pelas artistas visuais Isabel
Löfgren e Patricia Gouvêa, a partir da reprodução de uma obra de Rugendas
(1802-1858), que retrata uma mulher escravizada e seu filho de colo.
Forçadas a alimentar as crianças
brancas, as mães pretas eram obrigadas a deixar seus filhos sem o único
alimento disponível e, em alguns casos, abandonados à própria sorte. Em sua
pesquisa, Isabel e Patricia encontraram uma vasta bibliografia e um
acervo de imagens do século 19, base para o trabalho que utiliza a arte
contemporânea para uma discussão sobre maternidade, racismo, sexismo e
exclusão social, sofridos pela mulher negra no Brasil até os dias de hoje.
A exposição fica em cartaz até 25 de setembro, na
Galeira Pretos Novos de Arte ContemporâneaFernando Frazão/Agência Brasil
“O trabalho de observação e
descobertas das artistas é revelado em alguns momentos da mostra, e fica mais
evidente na série de assemblages-fotográficas, na qual utilizam recursos como
lentes de aumento e objetos que remetem às matrizes africanas”, explicou o
curador da mostra, Marco Antonio Teobaldo.
Segundo ele, o objetivo do
recurso é “reiterar ou minimizar a presença de determinados personagens e
detalhes, que muitas vezes podem passar desapercebidos num primeiro olhar, mas
que nesse caso são amplificados”.
A exposição foi concebida
especialmente para o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), onde
está localizado o sítio arqueológico do cemitério no qual milhares de africanos
escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na
primeira metade do século 19.
Isabel Löfgren e Patricia
Gouvêa trabalham juntas há mais de uma década e realizaram a exposição Banco
de Tempo na Galeria do Lago/Museu da República, em 2012, com livro lançado
em 2015. Em sua pesquisa, a dupla busca criar maneiras de relacionar lugares
históricos e arquivos de imagens a debates atuais por meio da arte
contemporânea.
A exposição Mãe Preta fica
em cartaz até 25 de setembro e pode ser vista de terça a sexta-feira, das 13h
às 19h, e aos sábados, das 10h às 13h. A entrada é franca. A Galeira Pretos
Novos de Arte Contemporânea fica na Rua Pedro Ernesto, 32/34, na Gamboa, zona
portuária do Rio.
Edição: Armando
Cardoso
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