domingo, 24 de julho de 2016

Ainda a escravidão



Mostra usa arte contemporânea para reviver as mães negras do Brasil escravocrata
  • 23/07/2016 21h11
  • Rio de Janeiro
Paulo Virgílio - Repórter da Agência Brasil

 A exposição Mãe Preta – memória da escravidão, maternidade e feminismo traz intervenções das artistas Isabel Löfgren e Patricia GouvêaFernando Frazão/Agência Brasil

Referências na arte produzida no Brasil do século 19 ao início do século 20, as conhecidas imagens das amas de leite negras ressurgem em uma exposição inaugurada na tarde deste sábado (23) na Galeria Pretos Novos de Arte Contemporânea, na mesma zona portuária da cidade que guarda, em locais e sítios arqueológicos, a memória da escravidão no Brasil. 

A mostra Mãe Preta é resultado de um ano e meio de pesquisas feitas pelas artistas visuais Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa, a partir da reprodução de uma obra de Rugendas (1802-1858), que retrata uma mulher escravizada e seu filho de colo.

Forçadas a alimentar as crianças brancas, as mães pretas eram obrigadas a deixar seus filhos sem o único alimento disponível e, em alguns casos, abandonados à própria sorte. Em sua pesquisa, Isabel e Patricia  encontraram uma vasta bibliografia e um acervo de imagens do século 19, base para o trabalho que utiliza a arte contemporânea para uma discussão sobre  maternidade, racismo, sexismo e exclusão social, sofridos pela mulher negra no Brasil até os dias de hoje.

 A exposição fica em cartaz até 25 de setembro, na Galeira Pretos Novos de Arte ContemporâneaFernando Frazão/Agência Brasil

“O trabalho de observação e descobertas das artistas é revelado em alguns momentos da mostra, e fica mais evidente na série de assemblages-fotográficas, na qual utilizam recursos como lentes de aumento e objetos que remetem às matrizes africanas”, explicou o curador da mostra, Marco Antonio Teobaldo.

Segundo ele,  o objetivo do recurso é “reiterar ou minimizar a presença de determinados personagens e detalhes, que muitas vezes podem passar desapercebidos num primeiro olhar, mas que nesse caso são amplificados”.

A exposição foi concebida especialmente para o Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), onde está localizado o sítio arqueológico do cemitério no qual milhares de africanos escravizados recém-chegados ao país foram enterrados à flor da terra, na primeira metade do século 19.

 Isabel Löfgren e Patricia Gouvêa trabalham juntas há mais de uma década e realizaram a exposição Banco de Tempo na Galeria do Lago/Museu da República, em 2012, com livro lançado em 2015. Em sua pesquisa, a dupla busca criar maneiras de relacionar lugares históricos e arquivos de imagens a debates atuais por meio da arte contemporânea.

A exposição Mãe Preta fica em cartaz até 25 de setembro e pode ser vista de terça a sexta-feira, das 13h às 19h, e aos sábados, das 10h às 13h. A entrada é franca. A Galeira Pretos Novos de Arte Contemporânea fica na Rua Pedro Ernesto, 32/34, na Gamboa, zona portuária do Rio.

Edição: Armando Cardoso

domingo, 17 de julho de 2016

São Luís, meu sonho!





Silvia Oliveira, Matraqueando, in 12 set 2012




Não busque em São Luís do Maranhão o que você não pode encontrar em… São Luís do Maranhão. A cidade Patrimônio da Humanidade não tem a cara de Ouro Preto nem o charme de Tiradentes. Não tem as praias de Maceió nem a gastronomia de Salvador.



Entenda, o que São Luís tem é importância e reconhecimento. Já se a cidade sabe dar valor a isso… é outro conto. O Centro Histórico reúne mais de 3 mil imóveis tombados pelo patrimônio histórico estadual. Boa parte entrou na lista da UNESCO pelo conjunto arquitetônico português.



Se Caetano tivesse se inspirado numa cidade para compor Dom de Iludir, a escolhida teria sido a capital do Maranhão, porque só ela sabe a dor e a delícia de ser o que é. Sobrados em ruínas ou becos suspeitos — qualquer canto rende uma imagem, força uma lembrança ou deixa uma cicatriz.



Mesmo com alguma revitalização, o centro histórico sofre com o descaso, a sujeira e a pouca preservação. Mas eu não vim atrás de uma réplica de uma cidade histórica mineira.





Eu buscava a São Luís do Bumba Meu Boi, do Tambor de Crioula, dos azulejos descascados, da arte do Nhozinho, do guaraná cor de rosa, dos cofos de palha, do arroz de cuxá e da torta de camarão. E ela está lá, exatamente como eu gostaria de encontrar.





Claro que no meu primeiro dia na cidade eu desconjurei até a 15ª geração da Família Sarney. Fica aquele sentimento de indignação. Por que não há uma política pública eficiente para dar pelo menos uma mão de tinta nesse amontoado de casarões e solares? Depois, não que venha a conformidade, mas você se acalma com um bem maior, o próprio maranhense.



Então, faça assim, quando vier para cá não busque o que você não pode encontrar. Tente achar a capital do Maranhão para se surpreender. Aproveite e traga seu bom humor de presente.