Legalização
da maconha no Uruguai gera oportunidades para brasileiros
Publicado
em 12-08-2017 Modificado em 12-08-2017 em 15:08
O Uruguai
regulamentou a produção e o consumo de maconha no país em 2013. Foto: José Raulino
A legalização da maconha no Uruguai tem mudado a
vida de alguns brasileiros. Em geral, são pessoas que resolveram empreender no
ramo ou que buscam tratamento médico dos derivados da planta. Brasileiros que
vivem no país e turistas também sentem as mudanças na política de drogas do
país vizinho.
Vanessa
da Rocha, de Montevidéu, para a RFI Brasil
O governo uruguaio regulamentou o consumo, a produção e a
distribuição da maconha em 2013, quando os uruguaios receberam
permissão para cultivar a planta em casa ou em clubes canábicos.
Quatro anos depois, em julho
deste ano, a última fase do processo de liberação entrou em vigor com a venda do produto nas farmácias.
Até então, 11.900 uruguaios se cadastraram para comprar os pacotes da erva
produzida sob a tutela do governo com limite de consumo de 40 gramas por mês. O
papel para preparar o cigarro e outros acessórios são vendidos em diversas
lojas que se multiplicaram pelo país, depois da legalização.
Bem antes da aprovação,
empreendedores brasileiros já estavam atentos ao potencial da maconha nos
negócios. No caso do paulista, Alexandre Perroud, de 48 anos, os
empreendimentos no ramo canábico começaram em 1994.
O fundador da loja Ultra 420
observa que a legalização no Uruguai gerou interesse em novos
empreendedores do Brasil, “esse foi o legado do Uruguai, pessoas se sentindo
seguras para entrar nesse mercado. As pessoas começaram a querer abrir
headshops, growshops… e isso aí vem crescendo muito, muito, muito. Nunca ouve
no mundo e no Brasil um momento tão propício para os negócios canábicos”.
Loja que vende produtos canábicos em Montevidéu. Foto: Divulgação
Segundo o último relatório da
ONU, 180 milhões de pessoas consumiram maconha no ano de 2015. Uma estimativa
da empresa americana New Frontier, especializada em pesquisas no tema, indica
que a maconha movimenta mais de 5 bilhões de dólares nos países onde o produto
é legalizado.
O gaúcho Henrique Reichert, de 30
anos, se mudou para o Uruguai em 2014 e teve a vida modificada por causa do
interesse do mercado no ramo. No ano passado, ele decidiu criar um canal no You
Tube chamado "Eu, a maconha e uma Camera”.
A ideia não era comercial, era
apenas recreativa, mas meses depois já tinha patrocínio de empresas, “decidi
fazer o canal e falar sobre a lei de maconha do Uruguai principalmente para
brasileiros. E gerou muita mídia, muita divulgação no Brasil. Fez com que
marcas entrassem em contato, pessoas interessadas em investir e a fazer
coisas no Uruguai relacionadas a isso e desde dezembro eu me dedico
exclusivamente ao projeto”.
O gaúcho Henrique Reichert criou um canal no
Youtube para falar da legalização da maconha no Uruguai. Foto: Henrique
Uso medicinal
Já os brasileiros que dependem da
maconha para o uso medicinal estão fora dessa agitada rota comercial. Quando
ocorreu a legalização no Uruguai, as famílias que precisam do medicamento no
Brasil criaram expectativa de agilidade na liberação do Canabidiol, o derivado
da planta com propriedades médicas, mas isso não ocorreu.
Para o paulista João Paulo Costa,
de 33 anos, que usa a maconha para o tratamento da epilepsia, não há dúvidas da
eficiência do produto no tratamento. “Eu dormia num quarto blindado de som e de luz,
dormia com fone no ouvido também porque ninguém podia me acordar que eu
convulsionava. Hoje consumindo cannabis eu consigo ter uma vida normal”.
Logo que a droga foi liberada no
país vizinho, muito se debateu se o Brasil seguiria o exemplo. A questão
naturalmente envolve uma discussão maior dada as caracteristicas de cada um dos
dois países, mas de qualquer forma, tem sido observada com atenção no mundo
todo.
Denise Tamer, de 31 anos, é
gaúcha e mora em Montevidéo há um ano e meio. Ela avalia que a iniciativa
uruguaia pode alimentar reflexões aos brasileiros. “A segurança aqui funciona”.
Para ela, alguns pontos podem servir de inspiração, “o Uruguai é um país muito
evoluído na questão do respeito das diferenças das pessoas, então eu acredito
que o Brasil tem muito a aprender em relação a isso, respeitar o outro”,
conclui.
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