Em
homenagem à mãe, empresário de Brasília abre vagas de trabalho para idosas
- 24/12/2015 13h50
- Brasília
Michèlle
Canes – Repórter da Agência Brasil
"Existem dois tipos de funcionário: o técnico e o motivado pela profissão.
Entre o técnico e a pessoa motivada,
eu quero a motivada”, diz Paulo Pagani, que teve a ideia de contratar
idosas
Marcello Casal/Agência Brasil
Fora do mercado de trabalho há 10
anos, a ex-bancária Glória Barbosa não queria ficar parada e, aos 62 anos,
resolveu procurar um novo emprego. A exigência de comprovar experiência em
funções diferentes das que já tinha exercido antes dificultava a procura. A
idade era outra barreira.
“Eles não falam diretamente, mas
a gente percebe. Falam que não é o perfil, que querem uma pessoa mais habituada
com a internet, computador. Eu sentia que eram portas fechadas”, disse Glória.
Na última sexta (18), porém, ela recebeu uma mensagem da sobrinha pelo celular
e soube de um anúncio de emprego para mulheres com idade entre 60 e 80 anos.
“Eu estava procurando emprego, mas, na minha faixa de idade, é muito difícil.
No mesmo dia em que soube dessa vaga, fui lá.”
A ideia de dar uma chance de
volta ao trabalho foi do empresário Paulo Pagani, que está abrindo, no bairro
de Águas Claras, em Brasília, uma loja com diversos tipos de serviço, como
padaria, crepreria, restaurante e minimercado. Paulo, de 61 anos, queria que a
mãe fosse trabalhar com ele. Como a mãe, Luiza, não mora em Brasília e preferiu
continuar em São Paulo, Paulo resolveu homenageá-la. Ele conta que a mãe foi
quem teve a ideia "precursora" da loja e, por isso, decidiu contratar
duas idosas para trabalhar no estabelecimento.
O filho de Paulo sugeriu colocar
um anúncio convocando as idosas em uma rede social. “Eu não imaginava a força
desse negócio. Em uma hora, tivemos 500 acessos. Em duas horas, 1.500, e o
processo foi evoluindo. Ontem (23), tínhamos 53 mil acessos”, disse o
empresário.
Paulo Pagani recebeu também mais
de 200 ligações de mulheres interessadas no emprego e também de filhos que
queriam ajudar as mães a conseguir trabalho. No dia da entrevista, muitos
parentes aparecerem para dar apoio às candidatas. Uma delas era Glória Barbosa,
que acabou contratada. E o que era desânimo transformou-se em entusiasmo:
“Agora terei coisas para contar aos meus filhos.”
Para a entrevista, o empresário
dispensou o currículo e adotou como critério a conversa. Algumas histórias o
emocionaram e ele resolveu aumentar de duas para 22 o número de contratadas.
Segundo Pagani, isso “revolucionou” o quadro de funcionários. "Com essa
motivação, elas [as contratadas] vão mudar o conceito de ir para o
trabalho". Vão ocupar vagas na cozinha, na padaria, na pizzaria e,
em especial, no atendimento ao público. “Existem dois tipos de funcionário: o
técnico e o motivado pela profissão. Entre o técnico e a pessoa motivada, eu
quero a motivada”, afirmou Pagani.
"Dinheiro
não é tudo",diz Jucilene, que volta ao mercado de trabalho aos 60
anos Marcello Casal/Agência Brasil
Aos 60 anos e fora do mercado há
muito tempo, Jucilene de Oliveira achava que não voltaria a trabalhar. Depois
que parou de trabalhar, para não ficar parada, chegou até a vender salgadinho.
“A gente fica em casa sem fazer nada, adoece. Quero me sentir gente, uma pessoa
reconhecida no mercado.” Ao receber a notícia de que conseguiu uma vaga,
Jucilene foi logo comemorar com a família. “Filhos, noras, netos ficaram
felizes porque viram que estou me sentindo bem. Foi uma terapia, serviu para
renovar a autoestima.”
Para as candidatas que não
conseguiram uma vaga, Jucilene manda um recado: “Não somos velhas. Somos novas
de espírito e temos que procurar fazer amizade, trabalhar. Isso é muito bom
para a saúde.”
E o dinheiro é importante?
Jucilene afirma que sim, mas diz que não é o principal. “Esse dinheiro é
importante, porque é bom ter o dinheiro da gente. Eu gosto muito de dar
presente para os netos. Mas muito mais do que isso, o importante foi trabalhar,
conhecer o público. Dinheiro não é tudo.”
Edição: Nádia
Franco
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